O carteiro
O carteiro me contou de você.
Contou-me de seus gostos, mágoas, desejos e ilusões. É engraçado pensar em cada detalhe após você ter ido.
Se foi como uma brisa de ar quente e congestionado, um carro das grandes marginais ou tão devagar quanto a dor que senti.
Ao te ver saindo pela porta pensei em te encontrar mais tarde, mas o tarde já fazia parte do passado e o que me frustra é o fato de você não ter ficado.
Me descartou como um velho boneco de porcelana, fazendo-me questionar minhas próprias lágrimas.
O salgado de meu rosto se junta com o doce de seu perfume e faz me delirar. Como se fossemos parte de uma mesma canção, uma terrível emoção toma conta. Mas lembro-me que você já se foi.
E assim o carteiro se despede, tira o chapéu e me deparo com longos cabelos cacheados, óculos e olhos semelhantes aos teus. Mas não é real.
Desse jeito minha imaginação se transforma em delírio, o que já faz parte de meus costumes, minha velha rotina. E com um forte piscar de olhos tudo se desmorona.
Pensando bem, o tempo passageiro foi o maior protagonista de nossas vidas. Tão rápido passou e lá se foi a última visão que tive de você.
As horas não significaram nada e agora, o que nos sobraram foram cartas. Apenas cartas.
E assim finalmente meu delírio se rompe. Finalmente e para sempre.
Pobre carteiro mal sabia o que lhe aguardava, ao me devolver a pobre carta que mais cedo fora escrita por ti, apenas rasgo e o trago um bilhete:
– Entregue-a por mim.
– O que é isto?
A chance de me despedir.
Não volte mais, não há tempo para voltar atrás.
Eduarda Maciel.