Prédio sem fim
Por favor, me atire desta sacada.
Pois eu cansei de ligar para você.
Nas noites frias, nas caladas da madrugada.
Cansei de me preocupar com você.
Nos ventos gelados que me cercavam e nas águas que me cobriam por completo.
E eu não ligava pois iria me afundar contigo.
Cansei de ter medo de você.
De sentir meus músculos tensos e firmes de nervoso.
Sentir minhas lágrimas travarem em meu estômago.
O medo de que você me machucasse por dentro mais do que eu era capaz de aguentar.
Medo que você me guiasse para onde meus olhos não pudessem mais enxergar.
Nas estradas escuras onde as luzes me perfuravam.
Cansei de sentir o desespero.
Meus olhos encharcarem e a pele do meu rosto secar.
Cansei de sentir que o tempo passa e nada muda.
Que depressa ando mas nada fica bem.
Que as ruas escuras se mantém de pé enquando eu engatinho com os joelhos ardendo.
Cansei.
Do meu coração saindo por minha boca.
Do sangue escorrendo dos meus pulsos e tornozelos;
Onde eu deixava as marcas que seriam facilmente encontradas por você depois.
Onde eu me abraçava, pois as cicatrizes assim fariam de mim um ser solitário.
Cansei de ser a autora dos meus proprios pensamentos.
De ser o roteiro dos meus maiores pesadelos e acima de qualquer coisa;
Cansei dos teus lamentos.
De ter surgido na mesma época que eu, insinuando que o erro estava em mim.
Percorrendo minhas veias até chegar em minhas glândulas cerebrais por onde você deixava seus traumas.
Que viraram os meus traumas.
Eu estou exausta.
"Cansada" se tornou uma palavra insignificante perto do que eu sinto todos os dias.
"Cansar" é o verbo mais estúpido, o mais inútil.
Eu sinto nojo, agonia de me cansar.
De jogar-me pelas sacadas sem rumo.
De atirar-me sob as rosas e com seus espinhos me cortar.
De mover-me até as marés e com suas águas me afogar.
De arranhar-me contra o tecido ferido de minha pele.
Cansada de tudo o que sempre existiu e foi tema de minhas poesias.
Somente atire me desta sacada, ao invés de fazer-me escalar as escadas de um prédio em vão.
Pois diante desta sacada;
Eu apenas me cansei de dedicar o pôr do sol a quem me deseja os raios da chuva.
Eduarda Maciel.